quinta-feira, 14 de outubro de 2010

escrever



A minha fala e minhas mãos (pra escrever, pra digitar) não acompanham meus pensamentos. Sim, vivo me atropelando... E a fala rápida, verborrágica e sem fôlego, unida aos milhões de gestos ou mão amarrada são sinais disso. E pro meu ofício, preciso escrever.
Sou verborrágica e a oralidade dos meus pensamentos diz (e porque não, escreve?) por mim.


....



No ônibus, céu nublado. Ouvindo Gilberto Gil e Os Mutantes - 1968. “Coisa mais linda que existe”.
E dentro, e na música, e no céu eu senti saudade. Senti saudade de um monte de coisa que não sei.
As lágrimas e o coração pequeno acompanharam o suspiro fundo e olhar desconfiado (por que está chorando?). E num dos suspiros de choro, lembrei do que tenho saudade. Tenho saudade da vida mansa, do suspiro apaixonado. Do colo que me faz ficar pequena, da certeza do telefonema de “tudo bem”. Saudade de ser parzinho, de ter mãos dadas. Saudade do cheiro, do cheiro. Saudade da rotina e da surpresa, do tédio e da alegria. E o cheiro que ainda busco por aí.
E a saudade foi tomando espaço, e ficando dona de tudo. E aí não se controla choro, e nem as mãos pra esconder o rosto.
Num ato desesperado, engoli tudo.
Engoli.
Engoli choro, engoli saudade. Engoli amor e cheiro. Engoli lembranças, engoli a música.
E engolindo, engolindo... Gritei engasgada.
E gritei: gritei amor, gritei saudade. Gritei teu cheiro, te chamei. Te chamei baixinho, no pé do ouvido. Te chamei gritando, te chamei numa ligação incompleta... te chamei.
Esqueci que você não ouve mais. E que você não vem mais.
Não vem.
Vem.




Ps: Com esse post, inauguro a sessão “escrever” do blog. A esta sessão, cabem todas as palavras que saem.

Um comentário:

  1. No meu ato mais desesperado escolho o lugar mais confortável e ao fundo e não engulo nada rss..
    Vejo a paisagem passando rápido e embarçada e isso alivia.. dá a sensação que a dor vai diminuindo a cada ponto para que eu possa descer recuperada na próxima estação...

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